domingo, 27 de fevereiro de 2011

FESTIVAL DE BERLIM 2011 - [Berlinale '11] Dez anos da Perspectiva do Cinema Alemão

Fátima Lacerda, especial para o SOS Hollywood



BERLIM - Há pouco mais de 10 anos, o filme alemão era praticamente inexistente no Festival de Cinema de Berlim. Sobre o comando de Moritz de Hadeln, antecessor do atual chefe Dieter Kosslick, o cinema nativo tinha um caráter de álibi na programação. Na melhor das hipóteses, um filme na Competição, e olhe lá.



Naquela época, mesmo com poucos destaques contados nos dedos – praticamente aqueles que alcançavam fama internacional – o cinema alemão era considerado morto pela crítica. Conseguir levar alemães em massa ao cinema para ver filmes da terrinha era algo muito raro. Quando alguém numa roda de amigos sugeria a ida ao cinema para um filme alemão, as caretas dos outros presentes eram certeiras.



Com a posse de Dieter Kosslick, em 2001, e também com ajuda de Alfred Holighaus, à época cabeça da produtora Constantin Film, foi criada uma seleção dedicada ao Novo Cinema Alemão no Festival de Berlim, batizada: Perspektive Deutsches Kino. Uma das diversas faces da Berlinale.



A idéia casou perfeitamente com a situação favorável por conta do financiamento de filmes graças a apoio público de peso. Uma das mais ousadas instituições da época era a Fundação Cinematrográfica da abastada região da Wesfalia, que Dieter Kosslick chefiou por muito tempo antes de tomar a frente do Festival de Berlim. Durante seu reinado por ali, Kosslick avalisou muitos diretores como Tom Tykwer, Fatih Akin, Christian Petzold, Oskar Roehler e tantos outros indispensáveis na arte cinematográfica contemporânea alemã.



A Dobradinha Holighaus/Kosslick rendeu um fórum ao cinema alemão, ampliando sua visibilidade internacional e com intuito principal de instigar o interesse de distribuidores, diretores de festivais e proprietários de cinema durante os 10 dias do evento.



Em 2011, a Mostra Perspectiva do Cinema alemão comemora dez anos e, em termos de imporância, não deve nada às demais seleções da Berlinale.



A Alemanha conta com posição invejável na estrutura para financiamento cinematográfico. Mesmo projetos oriundos de Hollywood conseguem se aproveitar do incentivo, contanto que cumpram com a exigência de serem filmados na região da Westfalia. Com isso, outros setores acabam sendo reforçados, como o Turismo, por exemplo, cujo sucesso justifica facilmente o investimento do dinheiro do contribuinte – que poderia se incomodar com quantias “astronômicas” dedicadas ao cinema. Por conta disso, não é nada raro ver estrelas hollywoodianas filmando nas ruas de Duesselorf ou Colônia.



O outro lado da moeda é que um robusto apoio governamental tem suas desvantagens:



Antes, um adendo, os recursos públicos podem ser utilizados tanto por diretores renomados quanto por recém-formados pela Escola Superior de Cinema. Logo, há casos polarizadores – especialmente pelo lado ruim – quando se discute a razão de investimento em filmes dúbios, com roteiro de difícil acesso, quase total sublimação de diálogos e cenas no meio do nada. “Qual a finalidade de se apostar em algo tão ruim assim?”, perguntam os críticos. A resposta certa ninguém sabe.



De qualquer forma, a Mostra Perspectiva do Cinema Alemão é benéfica para todos; seja para jovens cineastas em busca de um empurrãozinho financeiro, seja para o público. Mais do que isso, ela serve como fórum certeiro, uma plataforma de exibição num festival internacional, com a cara de Berlim, ou seja, paraíso para tudo o que é novo, inusitado e pronto para experimentar novas linguagens.



Entre as melhores dicas da programação de 2011 está Eisblumen (Flores de Gelo), da diretora Susan Gordanshekan. O filme conta a história de uma amizade inusitada entre uma mulher solitária com avançados sinais de Alzheimer e um jovem natural da Bósnia, vivendo na ilegalidade e com os sobressaltos diários que isso implica.



A outra dica é o documentário Stuttgart, Denk Mal (Stuttgart, Pensa Bem) sobre os intensos protestos de todas as camadas da população contra o projeto milionário contra a construção da estação ferroviária subterrânea na cidade que abriga a matriz da gigante Daimler-Benz. Os protestos em Stuttgart se tornaram ao mesmo tempo espelho e válvula de escape levando à tona, a insatisfação generalizada do povo alemão com a política governamental.



Além de painéis sobre as andanças do filme alemão independente, esse ano a Mostra vai ter até festa de aniversário. O que não faltam são motivos pra brindar. Que venham mais 10 anos !



FONTE:
http://www.soshollywood.com.br/berlinale-03/

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