domingo, 27 de fevereiro de 2011

FESTIVAL DE BERLIM 2011 - Berlinale '11 - Cobertura Exclusiva Direto de Berlim

por Fátima Lacerda, Especial para o SOS Hollywood



BERLIM - O Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale, é o maior evento cultural da Alemanha. Esse importância é espelhada não só pela presença de políticos do alto escalão, entre eles o Prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, com justa fama de festeiro, que não perde uma chance de estar na estréia do Festival, que ocorre entre 10 e 20 de fevereiro.

Ao contrário dos concorrentes Veneza e Cannes, Berlim é um Festival essencialmente feito para o público. Em nenhum outro Festival europeu de grande porte, os visitantes são tão atuantes. Apesar das longas filas para adquirir ingressos, sair de lá com as entradas é praticamente um sonho de consumo, algo que se leva para casa e exibe para os amigos. A compra online é igualmente bem estruturada, mas nem tudo é simples. Conseguir um ingresso para os filmes da Competição na corrida pelos Ursos de Ouro e Prata é bem mais difícil, mas, mesmo assim, não faltam histórias hilárias na disputa. Por exemplo, sempre aparece gente plantada na frente da sala de imprensa com um cartaz pendurado no peito “Procuro Ingresso” e a pessoa fica lá até aparecer uma alma caridosa dizendo: “Bitte schön!”, ou seja, “Aqui está!”. Definitivamente, cinéfilos e cinéfilas desconhecem temperaturas antárticas e sua determinação é impagável. Eu mesma já fiz alguns atos de caridade desse tipo. A expressão de espanto é o melhor agradecimento possível.

A outra face do festival é seu caráter político. Dieter Kosslick, diretor, cabeça e coração da Berlinale disse, certa vez, que um dos papéis do Festival é fazer do mundo um lugar melhor, focando no que acontece ao nosso redor.

Esse ano, o Festival amplia ainda mais seu teor político. O diretor iranino Jahar Panahi foi convidado para integrar o Júri Internacional, dessa vez comandada pela atriz ítalo-americana Isabella Rossellini. Nesse meio tempo, o diretor de Offside (vencedor do Urso de Prata em 2006) foi condenado à prisão domiciliar e proibido de exercer sua profissão por 20 anos. O protesto no site do Festival foi imediato assim com a garantia de total apoio a Pahani.

Por meio de nota oficial, todos os membros do Parlamento Alemão declararam sua solidariedade ao diretor considerando a medida como arbitrária e contrária ao livro exercício da arte. Dieter Kosslick quer pagar para ver e decidiu manter a cadeira de jurado vazia, ou seja, a ausência vai se transformar numa presença na mídia internacional durante 10 dias gerando cobertura negativa de imprensa para o governo iraniano ao longo do Festival.

A mensagem de Kosslick para o mundo durante o Festival é clara: Berlim não se esquece, nem apaga o que acontece no mundo.

Durante o evento, Berlim fica na ponta dos pés. A cara da cidade muda. Rostos novos, muitas pessoas nas ruas, longas discussões depois das seções e a maravilhosa sensação de que o mundo está todo aqui. Quem vem se encanta, quem está por aqui vê uma Berlim mais colorida em pleno inverno. Um burburinho se faz onipresente, a noite vira dia, as festas são obrigatórias, defender esse ou aquele filme um caso de vida ou morte, figurativamente, claro. O simples ato de entrar, ou não, em um cinema vira caso existencial. A cidade, que durante todo o ano já respira arte, exala cinema durante e é palco do caldeirão de aficionados, que depois de noitadas longas, se reencontram às 9 horas da matina para o início de um longo novo dia.

Suas diferentes mostras paralelas – Panorama, Fórum, Perspectiva do Cinema Alemão e Generation - literalmente acolhem um público de ecleticidade fenomenal, sem falar no número de estrelas de Hollywood com quem se esbarra nas ruas, na galeria ou simplesmente nos requintados shoppings da Friedrichstraße, que nos tempos da cortina de ferro, por ser do lado oriental, era herma, austera e muito cinzenta.

Sylvester Stallone comprando relógio de luxo, Diane Krueger jantando no badalado Restaurante Bochardt’s, Brad Pitt e Angelina no café no centro da cidade ou Charlie Watts simplesmente fazendo um passeio a pé, tudo isso é o dia-dia do Festival.

Quando o Festival chega ao fim, no dia 19, os berlinenses invadem o cinema. O “Berlinale Kinotag” mostra uma pequena coletânea dos filmes exibidos no Festival. Entre eles, pode estar um premiado da noite anterior. O valor dos ingressos é de aproximadamente R$ 14. Tudo que acontece por aqui é uma verdadeira declaração de amor à Sétima Arte. Difícil mesmo é acordar na segunda-feira seguinte, com aquela sensação de ressaca cultural, estar, ao mesmo tempo, cansada e saudosa. Para aguentar a barra, só mesmo adaptando livremente um ditado do futebol alemão: “Depois da Berlinale é antes da próxima Berlinale!”

A festa começa no dia 10 e você vai saber de tudo aqui no SOS Hollywood Enquanto isso, veja uma mensagem em vídeo da nossa correspondente local.

Fátima Lacerda é jornalista freelancer, gestora cultural e curadora de filmes. Radicada há anos na Alemanha, cobre o Festival de Berlim ininterruptamente desde 1998 para veículos brasileiros e alemães.


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