sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha | Crítica

 



Deborah Secco não é Natalie Portman, mas a performance da protagonista de Bruna Surfistinha parte do mesmo princípio expressionista da interpretação da atriz em Cisne Negro. Ambas atuam no limite da caricatura para demarcar, sem deixar dúvidas, a transformação física das suas personagens - mutações que têm o sexo como catalisador.


 


No longa que adapta livremente o best-seller O Doce Veneno do Escorpião - a história da prostituta que, assim como a britânica Belle de Jour um ano antes, decidiu usar a partir de 2004 um blog para narrar o seu dia a dia de trabalho - Raquel Pacheco se transforma rapidamente em Bruna Surfistinha. No livro, o passado de adolescente e o presente de prostituta se intercalam; já no filme, os dias de Raquel que antecedem a decisão de fugir da casa dos pais são postos em segundo plano.


 


Deborah surge primeiro como Raquel, a adolescente tímida, desajeitada, de moletons folgados, com o cabelo cobrindo o rosto, quase uma ogra. Meses depois, já sob o nome de guerra, quando começa a ganhar fama entre os clientes do privê onde ela trabalha, a câmera do diretor Marcus Baldini trabalha com um contraluz leitoso para banhar o desabrochar da mulher. Deborah corrige a postura, sorri, usa os últimos traços de timidez de Raquel para compor a persona lolita, mas de criança já não tem mais nada.

Outras transformações virão, e acompanhar como Deborah reage a elas é o foco da atenção do diretor. Muita gente já diz que é um filme que não tem medo de nudez, do impacto etc. Estranho seria se fosse recatado. Se o interesse maior de Baldini é pelos corpos, então desnudá-los é a única opção. E Bruna Surfistinha tem um desfile deles: baixos, altos, gordos, magros, de frente, de costas, de perfil - todos sempre colocados à comparação com o corpo de Deborah Secco.


 


Mulher-objeto
Inicialmente, a exposição do corpo da atriz é uma provocação ao espectador, o "voyeur" que ela encara nos olhos durante um close-up, na cena do primeiro programa de Bruna. Aos poucos, porém, essa opção por ficar na superfície do problema, de se concentrar no arco da mulher-objeto (cujo clímax não seria outro senão o esgotamento do corpo), vai minando o potencial do filme, especialmente se comparado com o livro.
Em nome de uma simplificação, os roteiristas José de Carvalho, Homero Olivetto e Antônia Pellegrino criam uma Raquel menos complexa que aquela do diário. 

Em O Doce Veneno do Escorpião conhecemos uma adolescente bem nascida e cleptomaníaca, que usa roupas da moda e parece tratar o sexo como rebeldia, masturbando garotos na balada. No filme, nas poucas cenas do "passado", Raquel tem dinheiro negado pelo pai, não sai à noite e, quando rouba, o roteiro a perdoa: é por questão de vingança e não compulsão.


 


A vitimização da personagem se estende às cenas no presente. No livro, Raquel rouba um colar da mãe e vende para "comprar coisas". No filme, embora Bruna tenha tirado o colar da mãe, quem revende é outra prostituta. Outro exemplo: no livro, Bruna dá a entender que deixou o privê onde convivia com outras garotas de programa porque quis; no filme, ela sai martirizada, expulsa por assumir uma culpa que não teve.


 


Ao retratar Raquel Pacheco como a garota oprimida que venceu na vida com um golpe de marketing, o blog (que no livro ela diz ter criado para desabafar em um momento de solidão), o filme acredita valorizar a independência dela como mulher e como profissional. Na verdade, acaba reforçando uma imagem de fragilidade e frivolidade que tem, ironicamente, muito de machista.


 

Marcelo Hessel
24 de Fevereiro de 2011  

FONTE:
http://www.omelete.com.br/cinema/bruna-surfistinha-critica

2 comentários:

  1. Pouco importa se a suposta vida pregressa da personagem seja fake e um bem sucedido produto de marketing; pouco importa que Raquel Pacheco seja o nosso Thierry Gueta e a sua “cinebiografia” o nosso Exit Through the Gift Shop; pouco importa que o roteiro subverta a obra em que se baseia e vitimize sua heroína; pouco importa que a trajetória do programa de R$ 300,00 para executivos vips ao programa de R$ 20,00 em muquifos do centro da cidade seja por demais inconvincente; pouco importa que o Radiohead tenha liberado seu clássico para a trilha sonora (aliás, as “falsas árvores de plástico” de Thom Yorke têm tudo a ver). O pior é terem tido a ousadia de colocar como tema principal “Time of the Season” do The Zombies, num pseudo-striptease meia boca – praticamente um sacrilégio. O único filme em que cabe essa canção é o dinamarquês QUERIDA WENDY de Thomas Vinterberg, com roteiro de Lars Von Trier, onde a música é quase uma personagem.
    O erotismo não basta, embora o milhão de espectadores esteja garantido.

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  2. Olaa Galeraa!
    Vi o Filme Mto show adorei
    Parabens Debora Secco
    Brunaa sua historia é uma licao de vida para muitas pessoas. Parabens

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